
Jun/1985
- Brasil Mineral No. 20 A
infra-estrutura social em projeto mínero-industrial Pode-se
dizer que a infra-estrutura social de um empreendimento mínero-industrial é o
conjunto de atividades que dele fazem parte e que não estão diretamente vinculadas
à sua atividade-fim, sendo, entretanto, necessários para o bem-estar da população
que irá operar. Quando
um empresário seleciona o local para a implantação de sua indústria, ele o faz
em função da infra-estrutura (inclusive social) disponível, que mais satisfaça
seus interesses, fornecendo-lhe o maior número de alternativas que beneficiem
o seu empreendimento. A
implantação de um projeto mínero-industrial não pode ser encarada sob esses aspectos.
Em muitas casos as infra-estruturas operacional e social já existem nas suas proximidades
e, então, um "ajuste" ou complementação são suficientes. Em outros casos é preciso
começar "do zero", o que ocorre quando a área a ser explorada está afastada dos
centros urbanos, distante das vias de transporte, linhas de transmissão de energia,
etc. Existem muitos empreendimentos nestas condições no Brasil e, aos seus moradores,
geralmente, procurou-se fornecer condições adequadas de vida. Os resultados nem
sempre correspondem às expectativas e, provavelmente, apesar das intenções corretas
dos seus projetistas, os seus enfoques não foram suficientemente abrangentes.
Em qualquer
situação, são inúmeros os fatores a serem levados em conta quando da implantação
de um núcleo urbano de apoio a uma instalação mínero-industrial. As condições
de conforto que serão oferecidas aos seus operadores, seguramente se refletirão
nos níveis de produtividade do empreendimento. O trabalhador que irá se deslocar
para sua posição de trabalho, se sentirá melhor para exercer suas funções, se
souber que sua família dispõe de resguardo e proteção adequados, seja em relação
à habilitação propriamente dita, seja em relação à educação dos filhos, às condições
de saúde, de abastecimento e até mesmo de lazer. Num ambiente onde a empresa empregadora
é a dona da casa, do super-mercado, do hospital, da infra-estrutura urbana, etc.,
o funcionário tende a ser mais crítico em relação ao seu patrão. Quanto mais elevado
o seu grau de satisfação, menor tenderá a ser o turn-over e, por conseqüência,
menores os custos de instalação pessoal. Independentemente
dos enfoques empresariais em relação a este assunto, deve ser ressaltado o aspecto
social propriamente dito, que uma instalação moderna, confortável e, além de tudo,
completa, tem condições de propiciar na cobertura das necessidades de seus funcionários.
É um fato, sem dúvida, que instalações de boa qualidade provocam o engrandecimento
pessoal e profissional dos trabalhadores, mesmo que sejam superiores às que eles
dispunham até então. Características
da Infra-estrutura Social - O Projeto A
implantação de um empreendimento de exploração mínero-industrial junto a algum
núcleo urbano exitente pode facilitar sobremaneira a instalação de sua infra-estrutura
social. Ajudar a desenvolver um núcleo urbano existente é sempre mais simples
que implantá-lo por completo, mesmo que as condições daquele, inicial, sejam precárias.
A implantação de um empreendimento de vulto em regiões remotas é, via de regra,
benvinda pela população local que, na maioria das vezes, não visualiza os aspectos
negativos que daí poderá advir. Se estes aspectos não forem corretamente enfocados
pelo empreendedor (por exemplo, a não recuperação do meio ambiente predado), as
conseqüências daí decorrentes poderão ser altamente maléficas para as populações
nativas da área. Qualquer
assentamento urbano que vai ser desenvolvido, seja ampliando um que já exista,
seja criando uma estrutura inteiramente nova, deve sempre poder contar com a colaboração
de uma equipe de profissionais de todas as atividades envolvidas, não só aquelas
humanas (como sociólogos, psicólogos, assistentes sociais, médicos sanitáristas,
etc.) e deproteção ao meio ambiente. O
urbanista (geralmente um arquiteto) tem todas as condições de liderar uma equipe
técnica apta a dimensionar e projetar a infra-estrutura social de um empreendimento.
A sua formação técnica e humanista lhe permite conciliar as atividades dos diversos
profissionais necessários, chamando cada um a contribuir, nas ocasiões próprias,
com o seu conhecimento especializado. É no núcleo urbano, o produto final da infra-estrutura
social, que irão se concentrar todas as condições da qualidade de vida preconizada.
Por outro lado, o envolvimento do empreendedor junto às equipes de projeto é muito
importante, principalmente nas etapas iniciais, de dimensionamento e conceituação
das instalações. O relacionamneto entre os técnicos e o empresário, desenvolvendo
um trabalho interativo num ambiente profissional de confiança, irá acelerar o
processo de tomada de decisões e, seguramente, beneficiar o resultado final visado,
que, em última instância é oferecer aos usuários instalações adequadas e confortáveis
a um custo compátivel com o empreendimento. Justifica-se, também, a presença do
proprietário junto à equipe de projeto, pois, é ele quem irá viver nas (e conviver
com as ) instalações projetadas. Dimensionamento
das Instalações O
tamanho e as condições do empreendimento irão determinar o número dos empregados
chamados diretos, necessários à produção propriamente dita. A este contingente
deve-se adicionar outro, dos empregados denominados indiretos, que são aqueles
necessários a operar a infra-estrutura social. Neste
último grupo estão, além dos funcionários do empreendedor, os das empresas públicas
e privadas presentes no núcleo urbano. Não é possível determinar a priori uma
rlação entre as quantidades de empregos diretos e indiretos neste tipo de instalação.
Eles variam de acordo com o equipamento industrial, as etapas de expansão, as
facilidades já existentes na área, etc. O
dimensionamento necessita, ainda, de outros dados, como nível de renda dos habitantes,
informações sobre sua origem, grau de escolarização, estado civil, número de filhos,
etc., para que se possa dimensionar e quantificar as edificações que formarão
a "vila". A
influência que a implantação de uma infra-estrutura social de apoio a qualquer
empreendimento exerce nas regiões próximas é praticamente incontrolável. Os serviços
por ela prestados são geralmente superiores aos até então existentes na área.
Em mutios casos, são os únicos. O hospital de uma vila implantada em alguma região
remota da Amazônia, por exemplo, não pode, por razões humanitárias, deixar de
assistir à população pobre, ribeirinha, que a ele recorre. Este aspecto tem também
que ser considerado no seu dimensionamento. Maior,
entretanto, é a atração exercida no pessoal que pretende se empregar no empreendimento
e, não o conseguindo, se instala nas suas proximidades, oferecendo biscates e
serviços não qualificados. Juntio ao núcleo "nobre", projetado para os operadores,
acaba surgindo outro, com padrão muito inferior. Muitas empresas, já prevendo
este assentamento e sua influência sobre o núcleo, prepara-o com uma infra-estrutura
mínima, dotando-o de arruamento, água, esgoto, eletricidade e até instalações
escolares e de assistência médica. Ainda
neste contexto devem ser considerados os canteiros de obras e respectivos alojamentos.
Geralmente a população necessária à construção do empreendimento é superior, em
número, à que irá operá-lo. Por outro lado, muitos empreendimentos, principalmente
os mínero-industriais, são implantados por etapas que, necessariamente, são executadas
por grandes empreiteiras e seus enormes contingentes de pessoal, os quais, também,
necessitarão de uma infra-estrutura social. Temos, pois, que considerar a presença
de três grupos distintos de pessoal, convivendo simultaneamente em uma região
(às vezes inóspita) em função de um mesmo mpreendimento. Cabe às equipes de projeto
selecionar como e onde eles irão se instalar e procurar definir da melhor maneira
a sua convivência. Um
núcleo urbano de apoio a um empreendimento é implantado de uma forma inteiramente
diferente que uma concentração urbana comum. Enquanto o primeiro é criado com
uma finalidade específica, claramente determinada e implantado por inteiro, de
uma só vez, devendo estar em condições de 'funcionar' por completo, praticamente
com o 'start-up' do empreendimento, esse último tem um crescimento espontâneo,
gerado pelos seus habitantes, de acordo com as suas necessidades e disponibilidades
individuais. No núcleo de uma empresa há poucas alternativas na composição do
cenário urbano. As edificações tendem a ser iguais, criando uma repetida monotonia
visual, difícil de ser quebrada. O usuário pouco consegue contribuir para melhorar
este aspecto. Esse é um dos desafios que as equipes de projeto têm que enfrentar.
Outro, é a criação de uma área central atraente, que possa efetivamente se constituir
no ponto de encontro espontâneo do núcleo. É
preciso prever adquadamente o seu crescimento, evitando, desde o início, grandes
vazios visuais, em áreas resguardadas para futuras expansões. O aspecto de aridez,
típico de obras novas, pode ser amenizado plantando-se os jaradins e praças tão
logo o projeto do núcleo o permita. É necessário, desde cedo, Aa criação de um
viveiro, selecionando e desenvolvendo os espécimes vegetais mais apropriados.
A seleção
do local deve, também, ser criteriosa. Além dos aspectos de beleza ambiental,
deve-se procurar adequar o núcleo à topografia do terreno, minimizando os movimentos
de terra e, principalmente, não alterando suas condições ambientais. Deve-se abrigá-lo
de possíveis enchentes, bem como da poluição sonora e/ou do ar, geradas tanto
pelas instalações do próprio empreendimento, como de outros que lhe fiquem próximos.
Além das necessidades implícitas dos seus usuários, os projetos das edificações
deverão considerar detalhes típios das condições locais. Deve-se, quando for o
caso, proteger as edificações do ataque de insetos e animais rasteiros e, simultaneamente,
procurar abrigá-las da umidade e das chuvas intensas, porém aproveitando (quando
desejável) os ventos incidentes. Muito
poderá contribuir para o barateamento das construções (e posterior manutenção)
a produção in loco de alguns materiais de construção, como tijolos e telhas de
barro, portas, janelas e peças estruturais de madeira, etc. Custos
A
avaliação dos custos de instalação de uma infra-estrutura operacional deve considerar,
além do investimento propriamente dito, os custos de operação e manutenção dos
equipamentos, edificações, infra-estrutura, etc. Não é fácil estabelecer um valor
numérico que seja absoluto e definitivo. São tantas as variáveis incidentes em
cada caso, que as comparações se tornam duvidosas. Um
estudo recente para um empreendimento na Amazônia obteve nas suas avaliações iniciais
os seguintes valores, aqui fornecidos exclusivamente como uma informação básica,
não devendo ser adotada como definitiva: a)
Implantação do núcleo US$75.000,00 / emprego direto b)
Custos operacionais: US$1.100 / ano / emprego direto Situação
brasileira Todos
os empreendimentos de vulto no Brasil foram implantados com base numa infra-estrutura
social instalada com o fim de lhes dar suporte. Os maiores são as barragens e
os empreendimentos mínero-industriais e, dentre estes, a Icomi com os núcleos
Vila Amazonas e Serra do Navio é um exemplo pioneiro. Certamente
não são inteiramente mensuráveis os benefícios que a qualidade das infra-estruturas
sociais instaladas nos vários empreendimentos trouxe aos seus habitantes e às
regiões circunvizinhas. Um trabalho sobre as instalações de saúde dos dois núcleos
da Icomi mostra surpreendentes resultados, entre outros, a redução de mortalidade
infantil na área. Só este aspecto já é capaz de justificar a atenção que foi dada
às suas instalações sanitárias e hospitalares. A
satisfação dos habitantes é fator essencial. A diferença entre os custos de uma
instalação adequadamente projetada e outra que não tenha tido este cuidado, não
representa fator relevante, quando comparada ao custo final do empreendimento.
O elemento que irá viver numa vila de operadores deve-se sentir por ela atraído
e não desmotivado. Por depender quase que inteiramente do seu empregador, ele
se torna exigente em relação às facilidade disponíveis. A qualidade do seu trabalho
refletirá diretamente o seu grau de satisfação. Cabe
ao empresário considerar estes fatores na implantação do seu empreendimento. O
tratamento dado ao elemento humano não deveria ser diferente daquele que os equipamentos
de produção, que só trabalham com as necessárias infra-estruturas e proteções
adequadas, recebem.
|